terça-feira, 30 de agosto de 2011

Estranhos Conhecidos...

Hoje me pego pensando como podemos conhecer algumas pessoas tão bem sem sequer termos uma história ou vivido algo de extraordinário com esse alguém.
Percebo que sintonia e empatia estão interligadas num pequeno cordão, que às vezes estica e às vezes se rompe...
Como pode você gostar de uma pessoa que viu apenas uma vez e querer partilhar com ela momentos diários, intimidades e segredos profundos?
O ser humano é complexo. Ponto. E isso todos sabemos, não há novidade nesta constatação. Mas a complexidade dos sentimentos, pensamentos e conclusões é que permeiam o instrumento caótico que é a comunicação verbal e subliminar entre dois seres.
Por que não nos entregamos ao que sentimos e vivemos sem cobrar qualquer explicação da vida ou do outro? Por que temos que alimentar nossa desconfiança no que é certo ou deixa de ser? Por que temos medo de trocar o certo pelo duvidoso?
Por que tudo o que é irracional nos dá medo e afugenta nossa coragem?
O gostar é sublime, mas não permite subliminaridades. Não é certo tentarmos dizer algo por trás de palavras dúbias ou frases que permitem entonações tão diferentes quanto seus possíveis significados. Isso é covarde.
Bom mesmo é abraçar, beijar, permitir-se... E como diz Clarice, mergulhar!
Eu não tenho medo. De nada. De falsos julgamentos, de verdadeiras catástrofes, de meio-amores. Nada temo. A não ser o de me perder nos meus próprios conceitos e pré-conceitos, estabelecidos de acordo com a imagem de uma sociedade primitiva que se amolda à tecnologia do futuro, sem, contudo, acompanhar a evolução dos sentidos.
Estamos caminhando para um buraco sem fim. Conversas de horas numa mesa de bar estão sendo trocadas por "tecladas" do computador ou até mesmo do "touch" do celular.
Não sentimos cheiro, nem gosto. Estamos presos numa pseudo idéia de liberdade sem fronteiras que a cada dia nos aprisionam num universo cada vez mais só nosso.
Nossas expressões perderam viço, e foram transformadas em "emoticons", os quais sabemos utilizar bem melhor do que nossa própria reação. Não sabemos reagir a estímulos impactantes.
Tornamo-nos pessoas de cêra. E quando conhecemos alguém que nos permite reviver a arte de nos comunicarmos verdadeiramente, não podemos sabotar o que sentimos. Não devemos afastar o que nos faz bem. Na verdade, é bem mais que isso. Somos proibidos.
E isso só acontece com quem pouco conhecemos. Deve ser a busca pelo desconhecido brincando de pega-pega ou esconde-esconde com nossa própria verdade.