segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Um novo (e eterno) amanhecer

E um belo dia a moça de sorriso triste, semblante desacreditado e coração murcho abriu a janela de seu quarto, admirou o sol nascendo, e pensou que talvez fosse a hora de seguir em frente e acreditar que poderia ser diferente.
Mas não dava...
Ainda não era a hora...
Passou mais um dia curtindo a amargura de ser diferente, de saber que o mundo não lhe compreendia, de ver que as pessoas vivem em seu egoísmo mais profundo e que neste mundo não haveria espaço para ela.
Assim passaram-se mais alguns dias...
Outras manhãs ensolaradas passaram por sua janela, uma andorinha pousou em seu parapeito a fim de lhe mostrar o mundo lá fora, um mundo que ela não conhecia, que fingia não conhecer, ou que simplesmente não QUERIA conhecer.
Baseada em dias passados, em que outros pássaros também tentaram lhe mostrar o mesmo, tentou se esquivar daquele ser que tanto queria lhe dar o mundo.
Parecia em vão.
Mas aquela andorinha era diferente. Tinha algo que as outras não tinham.
Ela estava realmente disposta a lhe mostrar que o Sol que brilhava do lado de fora de sua casa poderia ser o mesmo que brilhava para outras pessoas, mas o que fazia a diferença era a forma como cada uma percebia tal fenômeno.
Aquela andorinha era diferente. Seu olhar era mais profundo que o das aves anteriores.
Ela olhava aquela moça com uma intensidade e profundeza que fazia com que ela se sentisse segura para voar com ela. Mas o medo ainda a impedia.
Outras vezes caíra na conversa de outros pássaros que a seduziram e a fizeram desejar nunca ter acreditado neles.
Aquela andorinha era diferente. Era dona de uma magia que lhe dominava os batimentos cardíacos e fazia com que sua respiração ficasse ofegante todas as manhãs, enquanto aguardava a tão esperada visita.
Durante as 24 horas que se seguiam após a despedida, ela relembrava como eram as visitas dos outros pássaros, lembrava-se também que todos eles depois de um tempo deixavam de visitá-la... Era só ela demonstrar o quanto precisava deles. Isso fez com que ela não demonstrasse mais essa dependência para nenhum pássaro. Pois ela sabia e ressentia a dor que cada um lhe causou com sua ausência.
Mas...
Essa andorinha era diferente.
Com muita cautela e uma pitada de sabedoria, foi entrando em seu coração e preenchendo aquele vazio, restaurando cada pedacinho, semeando amor com dedicação e paciência, mostrando à moça que não precisava ter medo, que seria incapaz de lhe machucar.
Ela não queria. E queria.
Tinha medo. E não tinha.
Desejava sem querer e queria não desejar aquela presença que, como tatuagem, parecia ficar para sempre em seu coração.
Ela sentia uma saudade infinita e quando acordava se sentia ingênua por ter desejado tanto. E se houvesse qualquer atraso ela já se arrependia de tê-la desejado.
Mas o que será que os outros pássaros fizeram que a deixou tão incrédula?!?
Talvez eles nunca lhe tenham feito nada. Talvez ela mesma tenha se deixado machucar. Talvez tenham passado em outras manhãs apenas com a finalidade de fazê-la dar tamanho valor a esse pássaro. Uma andorinha que até hoje continua sobrevoando sua casa, pousando em sua janela e olhando-a com o mesmo zêlo e carinho do dia que trocaram as primeiras palavras, do dia em que apareceu em seu parapeito e a moça perguntou: "Oi, tá ocupada?!"
E assim ela continua todas as noites, olhando o céu, pedindo às estrelas e suplicando à Lua, que o Sol venha sempre acompanhado de SUA andorinha.

(Natalia Viotti)